CARNAVAL À MODA INGLESAComeça em Londres a festa que sepultou conflitos raciais há 50 anosNo final dos anos 50, Londres experimentou um pouco do que os Estados Unidos estava vivendo no sul daquele país: a hostilização declarada dos brancos contra os negros, o que acabou gerando um conflito racial e, ao fim de todo o sofrimento, leis que colocavam em pé de igualdade, ao menos no papel, os negros afrodescendentes e os brancos norte-americanos. Pois lá na Europa, neste mesmo momento, os ingleses do bairro de Nothing Hill viam chegar uma enorme população de imigrantes caribenhos, que vinham da Jamaica, Trinidad e outras colônias, trazendo um colorido muito diferente, outros temperos, outros sons, características que hoje se tornaram qualidades no bairro mais “cool” de Londres, mas que na época incomodaram muita gente. Os avisos nas portas de pubs e outros estabelecimentos começaram a aparecer, proibindo a entrada de negros e nenhum deles tinha permissão de dirigir-se a um branco na rua.
Seguindo o curso natural das coisas, o preconceito gerou revolta e conflitos no bairro, protestos de reação dos imigrantes negros que, por fim, conseguiram que a lei estabelecesse como crime a discriminação racial ou contra os imigrantes, configurando uma nova legislação, a Race Relations Act.
Foi assim que surgiu o festival caribenho que, a partir da iniciativa de Claudia Jones, editora da West Indian Gazette, ganhou as ruas de Nothing Hill desde então. Uma vez por ano, sempre em agosto, a cidade comemora a vitória da igualdade nascida daqueles conflitos com ritmo, culinária, roupas e fantasias típicas, desfilando a cara multicultural de Londres, cidade que é considerada a mais cosmopolita das capitais do mundo.
O Carnaval que começa hoje em Nothing Hill tem dois dias de duração, reúne 64 bandas, produz cinco toneladas de comida típica, 16.000 cocos e outros muitos litros de rum caribenho, consumidos nas trezentas barracas ao longo dos cinco quilômetros de festa. Tudo isso ao som de ritmos como o calypso, raggae, house, garage, misturando a música do Caribe à que se faz nos bairros londrinos. Uma salada étnica para ninguém botar defeito.